O SUSPIRO CAIU DO CÉU


Do céu caiu um suspiro
Partiu o pé à açucena
Arranjar um amor não custa
Deixa-lo dá muita pena
Ir preso sem embaraços
De nada me ia queixar
Na cadeia dos teus braços
Na prisão do teu olhar

Prisão perpetua era bom
Mas, o que é preciso fazer?
Para ser julgado neste tom
Se isto te der prazer

Para vencer esta batalha
Até posso ser ladrão
Se o prazer não me baralha
Vou roubar teu coração

Teu coração vou roubar
E por ele dou a vida
Vou nos teus braços acabar
Chamando-te minha querida

Assim morri em teus braços
Achei um morrer tão doce
Se a morte guiar meus passos
E em teus braços morrer fosse

Estou a falar por falar
Porque o olhar não engana
Se a vista te enganar
Olha bem para quem te ama.
Mário Pão-Mole

A DIFERENÇA ENTRE AMAR E NÃO SER AMADO


O amar ou ser amado
Duas coisas bem diferentes
Quem ama sofre calado
Ser amado vive contente
Se o amor nos faz feliz
Quando é correspondido
É tudo compreendido
Neste amor que tudo diz
O amor que sempre quis
E está bem a meu lado
No coração guardado
Com redobrada crença
Por isso vejo a diferença
De amar ou ser amado

O destino devia de dar
A toda a gente o direito
Manter no amor o respeito
De ser amado e amar
Para assim poder andar
E ver todos mais contentes
As alegrias prementes
Com respeito e educação
Mas como as coisas estão
Duas coisas bem diferentes.

O amor é guloseima
Difícil de conquistar
A quem devias amar
desprezas só por sistema
Fazendo-se disto um tema
E por a razão do teu lado
Teimando que é esse o fado
Que te dá tanto prazer
Não vês que estás a sofrer
Quem ama sofre calado

Quando um amor que dura
Cinquenta anos unido
É amor compreendido
Amor cheio de ternura
Numa vida já madura
Onde vê tudo diferente
Pormenores em muita gente
Que tudo podia mudar
Assim ias reparar
Que ser amado vive contente
Mário Pão-Mole

Um amor exemplar

UM AMOR EXEMPLAR
Ainda vejo no teu olhar,
Um calor cheio de carinho.
Teus lábios a desejar
Aos meus se virem colar
Num beijo longo e quentinho.

É grande o nosso amor
Em tolerância e perdão
Assim foi e se assim for
Serei eu um tenor,
A cantar esta paixão

Esta paixão vai dobrar
Acompanhar-me até à cova
Eu assim quero provar
Que vivo para te amar
Dou a vida como prova.

Deste amor nunca cansados
Diz o teu amor por mim
Cinquenta anos de casados
Alguns mais de namorados
E continuamos assim.

Assim sempre apaixonados
Bendito seja o amor
Ainda somos namorados
Como nos tempos passados
Para nós é um louvor.
Mário Pão-Mole

Sou alentejano - Mário Pão-Mole

SOU ALENTEJANO
Do Alentejo vou falar,
Com bastante nostalgia.
O tanto que lá sofria,
Gosto até de recordar.
No campo fui trabalhar,
Bastante cedo e todo o dia.

Naqueles dias de verão,
Do nascer ao por do sol,
Dobrado como um anzol,
Com uma foice na mão.
São tempos que já lá vão,
Mas, não é luz; é um farol.

De inverno, azeitona e monda,
Trabalhos de congelar.
Molhados, mas sempre a cantar,
Para passar aquela onda.
Não mexer naquela sonda,
Que dá vontade de chorar.

Deixamos as coisas tristes,
Falamos em alegria.
No cantar da cotovia,
Nas flores que por lá viste,
Nos rouxinóis que tu ouviste,
A sua linda melodia.
Mário Pão-Mole

Até que a voz me doa

ATÉ QUE A VOZ ME DOA.

Vou gritar aos quatro ventos,
Grito por não estar contente.
Assim está muita gente,
Com seus descontentamentos,
Destes ares que poluentes,
Pela maldição de capitais
Ele cada vês são mais,
Com mais força e mais poder,
E nós ficamos a ver,
Quem é que nos rouba mais.

Abre os olhos Zé-povinho.
Não engulas a patranha.
Porque te iludem com manha.
Com palavras de padrinho.
Olha bem para o caminho,
Que te estão a indicar,
Atolado vais ficar.
Não compreendo a razão,
E repartes o teu pão,
Com quem te está a roubar.

Olha para quem bem nos quer.
Sem rejeitar aparências.
Se é por conveniência,
És dum partido qualquer,
Sejas homem ou mulher,
Pensa bem no amanhã,
Nada de esperança vã.
Nem te embales em cantigas,
Amanhã só tens fadigas,
Sem teres garfo nem colher.

Os ladrões que só vão ser,
Absolvidos e perdoados,
Ao seus casos arquivados,
E provas não vai haver.
Possível, ainda vão querer,
Umas indemnizações,
Por lhes chamarem ladrões.
Assim foram difamados,
Nisto quem são os lixados?
São sempre os mexilhões.
Mário Pão-Mole.

Vento que passa e água que corre

VENTO QUE PASSA E ÁGUA QUE CORRE
Vento que sopra nos prados
Água que corre no riu
Seguem sempre separados
E de nós são fugidios.

De um sabemos o destino
O seu destino é o mar
Do outro eu não opino,
Quantas voltas irá dar.
A coisa será de pensar
Que são como a nossa vida
Que não voltam a passar
Por estrada já percorrida.
E tu não voltas a ter
A idade de há segundo
Como o riu vais a correr
Até bateres no fundo.
Com esta simplicidade,
Com a qual vamos vivendo
Correndo para mais idade
E vamos sempre correndo.
Mário Pão-Mole.

Grandes negócios

GRANDES NEGÓCIOS
Contentava-me ser bancário gestor.

Quem me dera ser banqueiro,
Viver abastada-mente.
Por ter um bom mealheiro.
Nos bolsos de toda a gente.

É só falar em milhões,
Em muitos lucros ir falando.
Comprar olhos e mirões,
Por traz, tudo vou roubando.

Só recolhe quem semeia,
A todos ir enganando.
Sei que toda a alcateia
Uns aos outros vão tapando.

Ir sempre camuflando,
Num paraíso fiscal.
Sempre pobre vou ficando,
Aos olhos do pessoal.

Passam anos a correr,
À vara larga vou gastando.
Quando algo se vai saber,
É maldade que estão usando.

No final eu não vou preso,
Em meu nome não nada tenho.
Assim é como eu vejo,
Assim trabalha este engenho.

A minha mulher é rica,
Mas, de onde veio a fortuna?
Para averiguar ninguém fica,
Ela nunca foi gatuna!

Acaba o banco eu vou para casa,
Qual é o nº seguinte.
Quem leva o corte na asa,
Quem paga, é o contribuinte.
Mário Pão-Mole.