António Nobre - Soneto nº 4

"Soneto Nº4" (1886)

O Virgens que passais, ao Sol-poente,

pelas estradas ermas, a cantar!

Eu quero ouvir uma canção ardente,

que me transporte ao meu perdido Lar.



Cantai-me, nessa voz onipotente,

o Sol que tomba, aureolando o Mar,

a fartura da seara reluzente,

o vinho, a Graça, a formosura, o luar!



Cantai! Cantai as límpidas cantigas!

Das ruínas do meu Lar desaterrai

todas aquelas ilusões antigas



que eu vi morrer num sonho, como um ai...

O suaves e frescas raparigas,

adormecei-me nessa voz... Cantai!

António Nobre

Sem comentários: