Carlos Drummond de Andrade - A Grande dor das cousas que passaram

A grande dor das cousas que passaram
transmutou-se em finíssimo prazer
quando, entre fotos mil que se esgarçavam,
tive a fortuna e graça de te ver.


Os beijos e amavios que se amavam,
descuidados de teu e meu querer,
outra vez reflorindo, esvoaçaram
em orvalhada luz de amanhecer.


Oh bendito passado que era atroz,
e gozoso hoje terno se apresenta
e faz vibrar de novo minha voz


para exaltar o redivivo amor
que de memória-imagem se alimenta
e em doçura converte o próprio horror!

Carlos Drummond de Andrade

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